sexta-feira, 29 de maio de 2015

Pais maravilhosos/pais horrorosos #1



Há uns dias fui ao MacDonalds.

Claro que não fui comprar comida para mim.

Que disparate. Eu só como alface.

Fui comprar para outra pessoa.

Para um amigo.


Pronto, adiante que isto agora não é a parte relevante.

Estava eu na fila à espera de comprar um Big Mac para o Super Gato - ah, era para um amigo? Sim, para uma amigo, claro - quando chega um pai com a sua filha e colocam-se ao meu lado.

Enquanto olhavam para o menu, pergunta o pai à sua menina de lindos olhos castanho se ela queria um happy meal. Ela que sim.

Depois pergunta-lhe se ela queria um brinquedo de menino ou de menina.

Não presumiu. Perguntou. Com toda a naturalidade.

Amei.


Está bem que o perfeito seria não haver distinção entre uns e outros.

Tanto compro carros como malas à CLSM. E nunca pensei nisso sequer.

Mas mesmo assim achei delicioso.

Quase tanto como o Big Mac.


Beijo da Patinha *

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Do desacordo




Pois, parece que o acordo ortográfico (AO) já entrou em vigor há duas semanas - sempre atual, eu - pondo fim à fase de transição e adaptação.

Não, parece que afinal não. Que legalmente só entrará em vigor em 2016.

Na verdade nem me dei ao trabalho de ir ver os argumentos aduzidos num e noutro sentido. É com tanta informação e contra-informação que já não se aguenta.

Mas faz todo o sentido que isto da entrada em vigor seja como o próprio AO: confuso e despropositado.

Despropositado - para não dizer de uma subserviência atroz - porque, dizem eles. nasce de uma necessidade de uniformizar a língua e manter um domínio e controle da língua portuguesa por parte de Portugal.

Mas que controle é esse, pergunta esta mãe Patinha armada em linguista?

Como é que se pode conceber a ideia de alterar a nossa forma de escrever pelo simples facto da língua portuguesa em Moçambique ou no Brasil ser escrita de forma diferente?

É diferente porque evoluiu de forma diferente. Teve outras influências.

E isto sou eu a ser muito simpática. Porque se não fosse, acrescentaria que também é diferente porque não souberam aprender corretamente a língua portuguesa. Mas como sou simpática não o digo.

Seja como for, essas evoluções e alterações deram-se de forma diferente em cada país, E é aí que devem ficar. Porque a língua é o espelho do povo. Do seu contexto e trajeto.

Ponho-me só a imaginar agora a Inglaterra a fazer uma coisa destas. A adaptar-se aos americanos. Os argumentos seriam transversais. Exatamente os mesmos.

Passar a ser theater - à uncle Sam - em vez de theatre - à british posh.

Acho que se vendessem esta ideia à rainha ela morreria de tanto rir. Bem, ao menos o triste do Carlos, o eterno príncipe já quase caquético, poderia enfim ser rei. Se ele for esperto, ainda fala à mãe nisto. A ver se lhe dá o badagaio.  

E depois ainda tem a outra parte. Que é um bocadinho humilhante, diga-se. Aquela parte em que parece que todos os outros países ignoraram o acordo, à exceção do Brasil, que parece - parece - que sempre o vai implementar.

Então afinal serve para uniformizar o quê, exatamente?

Um absurdo é o que é. 

De qualquer forma, se estiverem atentos, repararão com certeza que neste e nos outros textos escrevo já muitas vezes com a grafia estabelecida pelo AO. 

E como é que pode ser, se a pessoa aqui é tão contra o malfadado acordo?

É simples. Porque há coisas que me fazem sentido.

Faz-me sentido escrever exatamente, trajeto, ação ou ótimo, Mas só porque se mantém facto e pacto. Tal como se diz. 

Mas já não espetador, porque parece que está a espetar coisas, em vez de assistir um espetáculo. Mas espetáculo já me faz sentido sem o "c", engraçado.

Mas há consoantes mudas que realmente não fazem lá muito, não. São tipo os relações públicas. Ninguém sabe bem o que fazem nem para que servem. Mas aparecem nas revistas. 

Ah, mas servem para abrir as vogais (as consoantes, não os rp's, entenda-se). Pois, mas há imensas palavras com grafia semelhante e em que numa lê-se a vogal aberta e noutra fechada. E sabemos como funciona.

Não seria fulcral esta alteração. Realmente. Provavelmente nem necessária. Ou mesmo legítima.

Mas não me choca, nem me tira o sono que se retire essas consoantes. Mesmo que por decreto.

A alterar terá de ser assim, por decreto mesmo. Não somos o povo mais dado a alterações da língua. A alterações do que quer que seja, se pensarmos bem.

Mas depois há todo um mar, um oceano, um mundo e um universo de incoerências e incongruências neste AO.

E pior, coisas simplesmente estúpidas.

A quem lembra passar a ser janeiro em vez de Janeiro? E verão em vez de Verão?

A quem lembra passar a ser para, em vez de pára?

             -  Para aí! 

             - Está bem, venho para aqui.
   
             - Não, para aí!

             - Tum bum lum tum (som do cego a cair no penhasco)

       Ai, Virgem santa, que coisa horrível!

A quem lembra passar a ser cor de vinho em vez de cor-de-vinho? Mas continuar a ser cor-de-rosa.

A quem lembra passar a ser há de em vez de há-de? A sério? Quem é que se lembrou de alterar isto? Mas porquê? Uma ideia tão estúpida como os cabos de selfies.

E fim de semana em vez de fim-se-semana

Bem, ao menos só tiraram o hífen e deixaram-nos o fim-de-semana.

E então o que temos em respeito ao AO?

Duas coisas:

          Uma Filipa funcionária pública que terá de escrever e escreve de acordo com o AO.
   
         Uma Mãe Patinha que escreve como bem lhe apetece. Com algumas palavras novas e muitas antigas. A gosto da freguesa. 

         
Por isso, fica lavrado para memória futura que  por estes lados, todos os textos são escritos de acordo com o Acordo Filipográfico. Por decreto real.


Beijo da Patinha * 






terça-feira, 26 de maio de 2015

Pedra no sapato


Há pessoas que me irritam.

Eu até sou - ou pelo menos considero-me e como sou eu que estou a escrever, não tenho ninguém para refutar e posso escrever o que bem entendo - uma pessoa tolerante e de trato fácil. 

Moderado, vá.

Mas irritam-me solenemente as pessoas que estão sempre de mal com a vida.

Que acordam sempre com os pés fora da cama.

Que comem todos os dias vinagre ao pequeno-almoço. Com ameixas azedas.

Que só conhecem dois tons de discurso: agressivo à caniche pequenino e ruim ou agressivo à buldogue raivoso.

Irritam-me. Irritam-me porque são fonte de mal-estar. Irritam-me porque propagam a sua aura mais negra que barba de pirata da Disney onde quer que passam.

Irritam-me estas pessoas.

As que têm sempre uma pedra no sapato. Um pedregulho. 

Eu não. Eu já não tenho pedras no sapato.

Agora, sempre que calço um sapato que esteja à vista, tenho um morango de brincar lá dentro. 

Ou bolas. Ou o biberão da bebé Antónia.

Se algum dia destes eu também estiver com humor de elefante solitário em zoo no cio, já sabem o que dizer:

Aquela tem um playmobil no sapato.



O que encontrei há uns tempos no meio da minha cozinha. A hunter e o macaco José. Poderia ser um filme à Hunger Games.



Beijo da Patinha *

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pais maravilhosos/Pais horrorosos





É mais forte que nós. Julgar.

É impossível, completamente impossível, ver um pai ou uma mãe na rua, no jardim, numa loja ou num supermercado a fazer, dizer, pedir ao seu filho o que quer que seja e não julgar. Não achar que o pai/mãe fez bem ou mal, que disse o correto, que usou ou não o melhor tom, que foi ou não razoável.

Se é ou não um bom pai ou mãe.

É impossível.

Bem, pelo menos para mim é impossível.

E tantas vezes apetece-me dizer, censurar ou simplesmente levantar-me e dar uma estalada ao pai ou à mãe. Porque se ensinam às crianças que a violência é um modo de estar, em abono da coerência, também devem levar com ela.

E não faço nada. Obviamente.

Mas tantas ou mais vezes também me apetece aplaudir, inspirar-me.

E não faço nada. Obviamente.

Porque na verdade não tenho nada a ver com a vida de ninguém. Mas não deixo de ter opinião.

Seja como for, sabe-me sempre a pouco.

E depois fez-se luz. Ó milher, então tu não tens um blog?

Escreve, escreve.

E pronto, assim se inicia uma rubrica (ai, fina!) onde posso dizer tudo o que penso sobre episódios de parentalidade que vejo por aqui ou por ali e que ou me fazem ferver o sangue ou derreter a alma. 

Chamei-lhe pais maravilhosos/pais horrorosos.

Eu sei que a palavra "horrorosos" é pesadíssima e muitas vezes será injustamente aplicada. Porque um momento a que eu assista não define o pai/mãe, que pode estar simplesmente muito cansado(a), num mau dia ou o que mais quer que seja. 

É verdade. Eu sei.

Mas é que horroroso rima com maravilhoso. E eu não resisto a uma rima.


Beijo da Patinha *


terça-feira, 19 de maio de 2015

O Monstro das Festinhas


A CLSM adora livros. 

E eu adoro que ela adore livros. 

Compro-lhe imensos, mas já aprendi que preciso de escolhê-los muito bem. 

Comprei-lhe livros de primeiras palavras tão maus, mas tão maus, que nem eu conseguia perceber o que raio era aquilo. Uma maçã - ou seria tomate - ao lado um avião? E a maça-tomate maior que o avião?

Há realmente uns livros péssimos. E há uns bons.

E depois há este. Que é maravilhoso!



O Monstro das Festinhas é perfeito. A personagem, a temática - principalmente para a Sarapica (nova alcunha) que adora abracinhos, como vos dizia aqui-, o texto simples, mas vibrante e cheio de vida e as ilustrações deliciosas. Coloridas, que até nem costuma ser a minha praia, mas que, por alguma razão, adoro.

E os nomes das personagens. Amo. Só nomes estranhos.

Ouvir a Maria do Carmo a dizer "Dona Quilina" (Dona Miquelina) e "Xinhô Poenxa" (Sr. Proença) mata-me de fofura.

O livro é da Carla Antunes e comprei-o na Fnac por 10€. Ainda por cima não muito caro.

É atualmente o livro preferido da CLSM e oficialmente um dos meus também.

A par com o Cem Anos de Solidão e o 1984.

Obviamente, fiel a mim própria, já andei à procura de todos os livros da autora. E vou comprar todos. Todos.


Mas isso leva-nos a outro problema. O espaço para guardar livros. 

Quando fiz o ninho da CLSM coloquei uma cesta de vimes pintada pela minha mãe, que foi forrada por uma costureira depois da minha mãe ter tentado 3 vezes e ter finalmente dito "ah, pó diabo com isto, eu pago e alguém faz".

Uma cesta giríssima, é verdade, mas que agora já nem levava metade dos livros. 

Entretanto falaram-me dumas prateleiras do Aki, que são maravilhosas. São giras, ocupam pouquíssimo espaço e dão imensa arrumação. Fiquei fã!

O resultado:






Agora para os que estão a pensar "mas o que raio é isto? Este blog agora também é de literatura e decoração?"

Sim, agora também é um blog de life style, que é como quem diz, do laife staile. 

Estou a pensar mudar o meu nome para Pipoca, a Maria do Carmo ser Carminho, eu vestir uns calções de ganga - que haveria de ficar maravilhoso nestes troncos-, vestir-lhe tudo o que ela tiver no vestuário que tenha laços, mais 2 laços na cabeça e tirar muitas fotos para publicar. 

Assim, ao pôr-do-sol.

Top.


Beijo da Patinha *







segunda-feira, 18 de maio de 2015

Do parque infantil ou da burrice tamanha






Eu gosto imenso de levar a CLSM ao parque infantil.

Ela adora andar nos baloiços - 2 minutos -, nos cavalinhos  -1 minuto, depois quer ir para o chão e mal chega ao chão quer ir para o cavalinho - nos túneis - quase que entra mas não entra, vai ver do outro lado e não, não entra mesmo nesta coisa que parece assim para o escuro  -  e no escorrega - desce uma vez e fica sentada a cantar e a palrar o resto do tempo.

Ela está feliz e eu feliz e descansada.

E mais vezes iríamos, não fosse a crassa estupidez humana.

Senão vejamos:

           
              No Inverno não podemos ir porque está frio e chuva;

              No Verão não podemos ir porque está muito Sol.


E o que se poderia fazer sobre isto? Hmmmmmm, deixa-me pensar.... 

Se ao menos houvesse alguma coisa na Natureza que fizesse sombra.... Ou se alguém tivesse inventado alguma coisa que servisse de cobertura fosse para proteger da chuva ou do frio...

Mas não, não há nada disso... 

Bem, então fica assim, A descoberto.

Será este o raciocínio?

A sério que me tira do sério!

Não há neste mundo uma alminha pensante que se lembre de colocar uma porcaria de uma pala tipo guarda-sol, construir uma espécie de proteção ou até mesmo plantar uma bendita árvore num parque infantil? Algo que ao menos faça sombra?

Será que ninguém na - com certeza - equipa multidisciplinar que concebe os parques infantis terá dois dedos de testa? 

Será que ninguém numa equipa que deve ser de pelo menos 10 pessoas - porque já se sabe que para se fazer uma coisa como deve de ser tem de ser feito por muita gente. Com muitos títulos - não tem filhos? 

Ah, têm? Mas então onde os levam a brincar às 3 da tarde?

Levam-nos ao parque infantil. 

Sim? A qual?

Ao do centro comercial. 

Porque tem sombra.

Ah!


Beijo da Patinha *



P.S. - Perguntaram-me há uns dias o que raio queria dizer CLSM (sim, ti Joge, tu!).
Provavelmente outras pessoas perguntarão o mesmo. Porque eu sei que passam imenso tempo a pensar em mim! A ler os textos e a sublinhar as partes mais importantes. Tipo horas!

A explicação do CLSM está algures num texto anterior, mas porque ninguém teria paciência de ir ler tudo à procura - nem eu, note-se - fica lavrado em ata que CLSM significa Coisa Linda de Sua Mãe.

É isso. Bem vindos à piroseira sem igual.

*



sexta-feira, 15 de maio de 2015

Aconteceu - Parte 2






Pensei que esperaria mais tempo.

Não estava preparada.

Às vezes menosprezamos as capacidades dos nossos filhos. 

Está uma pessoa a viver a sua vida normal, feliz da vida e muito longe de sequer imaginar que pudesse ser para já e toma lá que já almoçaste bacalhau com grão e ovo cozido.

Credo, o que falta. Ela só tem 21 meses. Nem 2 anos tem. Ainda tens muito para esperar...

Mas não. Desengana-te. 

Já aconteceu.

E foi maravilhoso e enternecedor. Fez-me chorar.

Nunca mais nada será igual.

A Maria do Carmo disse-me.

Queria dizer. Abriu a boca ficou preso na garganta.

Parou um bocadinho para pensar. Lembrou-se como era a palavra. E disse.

Seria normal que o dissesse. Digo-lhe tantas vezes. Mas nunca esperei ouvir.

Nunca pensei nisso. Deve ser isto que dizem que é amar sem esperar nada em troca. Puro altruísmo. Puro amor.

É verdade que demonstra todos os segundos de todos os dias.

Gestos. Abraços. Carícias.

Naquele olhar imenso, na forma que me olha como nunca ninguém me olhou. Com amor. Com admiração. Com necessidade. Com felicidade. Infinitos.

Mas eu sou uma mulher de palavras. Sou. As palavras atingem-me a alma.

Ela disse e fez-me a mãe mais feliz do mundo. 

A Maria do Carmo, quando cheguei, deu-me um abraço e disse-me:

        -Adoro-te!


Estou ainda a pairar.


Beijo da Patinha *

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ai, a minha vida!


Pensei durante muito tempo que a CLSM não teria um objeto de transição.

Para quem não é progenitor, eu troco por miúdos. 

O objeto de transição ou transitivo é um objeto que ajuda a criança a lidar com situações novas, desconhecidas, de separação, medo ou angústia. Um conceito desenvolvido por Winicott (com a devida vénia, excelentíssimo maravilhoso!), que acredita que a criança vê neste objeto quase que o substituto da mãe.

Na prática é aquele trapo, boneco ou fralda já toda ranhosa e mais suja que o tempo que as crianças agarram como se não houvesse amanhã, levam para todo o lado que nem carapaça de tartaruga e que se calha a ser perdido - Deus nos livre e guarde - cai o Carmo e a Trindade. 

É isso.

A Maria do Carmo só lá por volta dos 11 meses é que, de entre tanta bonecada, se perdeu de amores por uma gatinha que lá andava. Uma coisa fofa e amorosa (mas quem és tu, pessoa que diz fofa e amorosa?!) de seu nome Daisy. 

Sim, se eu soubesse que essa seria a sua mais-que-tudo, teria escolhido outro nome. 

Foi um amor que nasceu do nada e verdadeiramente arrebatador.

A Daisy foi usada e abusada. Levou mais abraços que político em dia de vitória e mais beijos que bandeira em dia de procissão.

Aliás, olhava para a CLSM e lembrava-me de uma personagem de desenhos animados que adorava: a Elmyra dos Tiny Toons. Alguém se lembra? A que abraçava os animais com tanto amor que quase os sufocava? O que eu adorava esta criatura incompreendida:






E assim era a Maria do Carmo com a Daisy. 

Havia alturas que até ficava a pensar se aquilo não seria exagerado, se seria - odeio esta palavra - normal. Pois, eu penso em demasia.

É que, na verdade, apesar da Daisy ser a vítima preferencial, a minha pimpolha adorava - e adora - dar abracinhos e beijinhos aos seus bonecos todos. 


Aliás, a tudo. Não devem ser muitas as crianças que dão beijinhos a bolas e abraços a lápis de pau.

Mas se ela recebe muito mimo, muitos beijos, muitos abraços tem de dá-los também. E dá. Todos os dias. Aos pais, aos avós, aos tios, aos amigos e basicamente a tudo o que existe.

Se não é normal, é pelo menos normal para ela. Dela. 

Logo, para mim também.

E pronto, de repente a Daisy passou a fazer parte da família. 

Para onde fossemos, lá ia Daisy na minha mala "paxiá".

A bendita da "boneca/gata" - nome de código para podermos procurá-la sem se levantar um motim - só se perdeu temporariamente duas vezes. E em ambas as vezes, em abono da verdade, os pais ficaram mais aflitos que a filha.

Mas, não fosse o Diabo tecê-las, comprámos uma segunda Daisy que lhe oferecemos no Natal. A expressão de felicidade incrédula quando, com a sua Daisy na mão, abriu o presente e viu outra foi impagável. Olhava para uma e depois para outra que nem espetador de jogo de ténis.

Do topo dos seus 17 meses só dizia:

       - A Dé! Tanta, tanta! 

Depois disso a Daisy 2 ou Daisy estou-infinitivamente-mais-limpa-e-não-estou-descosida-em-parte-nenhuma ficou guardada no vestuário. Só para tranquilizar a mãe patinha e o pai galo.



Entretanto, aí por volta dos 20 meses, a paixão inicial começou a apagar-se. Se via a bicha era uma loucura de abraços, mas já não pedia por ela. Olhos que não vêem coração que não sente.

A coisa estava toda muito bem até a minha mãe ter tido a brilhante ideia de oferecer-lhe uma Minnie que vimos numa qualquer loja de brinquedos.

Foi amor à primeira vista. Ela abraçou-a e ainda na loja batizou-a, dando-lhe beijos:

                  - Minnie Ziganti

E sim, o estupor da Minnie é gigante. E gira que se farta. Mas gigante. 

Para que percebam a diferença, a Minnie - que está sentada, note-se - e a Daisy:







E agora que ela quer andar com a Minnie a reboque?

É que para eu levar a dita cuja na minha mala, tenho de passar a andar de mala de viagem.

Que já esteve mais longe, é verdade.

Estou tramada.

Obrigadinha, mãe. Sim?




Beijo da Patinha *



















segunda-feira, 11 de maio de 2015

Gotices da mãe!




Felizmente a minha CLSM herdou as imunidades da mãe.

Se bem que que parece que vai ter o massacre das alergias. Como o pai.

(E não, não pensem que eu acho que tudo o que é mau vem do pai.)

Mas de resto, sã como um pêro. Graças aos céus e arredores.

Teve febre uma vez e durou 24 horas.

Teve uma conjuntivite.

E esteve ligeiramente constipada durante uns 5 dias.

Recomendaram-me na altura umas gotas para desentupir o nariz com um nome de tal forma estrambólico que não decorava de maneira nenhuma.

Acabei por escrever no telemóvel e num papelinho. Quando cheguei à farmácia não tinha bateria no telemóvel. E tinha perdido o papelinho.

Mas que nem concurso de televisão, bastou-me abrir a boca para dizer neo.... que a farmacêutica completou....sinefrina.

Parece que é assim uma coisa conhecida. Tipo rock star dos medicamentos.

Cheguei então a casa, coloquei-lhe as gotas e funcionou maravilhosamente.

E a constipação entretanto passou.

Na semana passada, Maria do Carmo volta a ficar "compipada com ranino".

Ao segundo dia, achei que era melhor pôr-lhe novamente as gotas, porque só o soro não estava a funcionar.

Mas desta vez já as gotas não faziam o mesmo efeito.

Desanimada, enquanto administrava as gotas ao terceiro dia, comentei com o super gato que se calhar já estava a fazer habituação.

      - Mas que gotas são essas que estás a pôr?

     - Mas então estás parvo? As gotas do nariz, claro.

     -  Zaditen? Isto não é para o nariz!

      - Não?!

Momento de pânico! Ai mãezinha e meu senhor! Mas que raio de coisa é que lhe estou a deitar pelo nariz abaixo?

    - Onde está a bula?

    - Eu sei lá! No lixo, provavelmente!

     - Tu e a tua mania de deitar tudo no lixo!

     - Googla, googla! És tão antigo, caramba!

     - E então?

     - Está abrir...

O pânico quase instalado! Os dois mais tontos que baratas e ela calmamente a olhar para nós como se estivesse confortavelmente a assistir a uma fraquíssima comédia de situação no teatro do bairro.

       - Está aqui! Zaditen. Zaditen, Zaditen... é para a conjuntivite.

      - Ah!

Confusão mental momentânea.

      - E agora?

Pausa de não sei o que dizer.

       - Será grave?

      - Grave não será. Ao menos sabemos que não ela não vai ter conjuntivite nasal.
     
       - E vai ter um nariz a ver melhor que nunca!


Beijo da Patinha *


domingo, 10 de maio de 2015

Lamechices ou eu armada em poeta


Os raios de Sol a descobrir a pele que timidamente se desnuda, os pés descalços a redescobrir a relva quente.

Todos jogados, todos relaxados.

 As mesmas conversas. Mas sempre frescas. Com roupagens novas.

A casa de sempre, o berço de sempre.

E ela. A abrilhantar tudo.

A cena à Fellini - nunca vi, mas só pode existir - da família à porta a despedir-se. Todos à porta a acenar. Uma cena recorrente que hoje ficou presa na retina.

Tão feliz.

Com tantas razões hoje como em qualquer outro dia que abra a pestana. Mas hoje de pestana bem aberta.

Há dias maravilhosos.



Beijo da Patinha *

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Aconteceu!




Pensei que teria mais tempo.

Não estava preparada.

Às vezes tomamos as coisas por garantidas. Não as apreciamos devidamente. Não as conseguimos imaginar como finitas.

Está uma pessoa a viver a sua vida normal, feliz da vida e muito longe de sequer imaginar que pudesse ser para já e toma lá que já almoçaste arroz com polvo à lagareiro. 

Credo, o que falta. Ela só tem 21 meses. Nem 2 anos tem. Ainda tens muito para aproveitar...

Mas não. Desengana-te. É mentira.

Já aconteceu.

Não há volta a dar.

Nunca mais nada será igual.

A Maria do Carmo virou-se para mim e disse.

Eu sabia que ela iria dizer. Toda a gente me diz. Tinha de acontecer. Era uma inevitabilidade.

Só não esperava que fosse já.

Mas já aconteceu.

A Maria do Carmo virou-se para mim e disse. Disse não, pediu. Quase suplicou:

        -A mamã não canta!


E pronto, já está dito.

Mãe sofre.


Beijo da Patinha *

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mãe kung-fu




Nunca pensei ser esse tipo de mãe.

Mas parece que sou. E na verdade, se pensar um bocadinho, sem surpresas.

A CLSM, como não anda na creche, convive com filhos de amigos, com os colegas do Gymboree  - eu sei que está prometido o relatório sarcástico - e com todas as crianças que ela encontre na rua ou onde quer que seja. Onde está uma criança, está a Maria do Carmo. 

Mas este tipo de convivência faz com que não esteja claramente habituada a coisas típicas destas idades. 

Já vos contei aqui que quando lhe tiram brinquedos, ela diz "obrigada". Não existe...

Mas já tem vindo a acontecer que lhe dêem empurrões. Que lhe saltem em cima para tirar a chucha. Que lhe tirem bolas.

E nesses momentos, ela olha para mim baralhada. Acho que é essa a palavra. Ela sorri, mas um sorrir de vou-sorrir-porque-não-sei-bem-o-que-faça-e-com-um-sorriso-tal-como-com-um-vestidinho-preto-nunca-me-comprometo.

É um sorrir que me parte um bocadinho o coração. De tão desorientado.

Até que uma amiga, também mãe e educadora de infância, ainda para mais, fez um comentário a propósito que não poderia ser mais certeiro. Eu comentava com ela que a Maria do Carmo não sabia reagir.

       - Claro que não. Nunca na vida dela, desde que nasceu, alguém lhe fez mal.

E sim, é isso. Ela não sabe como reagir porque é novo.

E se está desorientada, cabe-me a mim guiá-la. 

Então explico-lhe que o menino está a brincar e entusiasmou-se, empurrando-a sem querer. Que são coisas que acontecem. E ao menino explico, com um sorriso e com uma carícia, que ela é mais pequenina e que ele tem de ter mais cuidado. E eles percebem e tudo corre bem.

Então explico-lhe que a bebé ainda é pequenina e adora chuchas, mas como ainda não sabe falar para pedir, tenta agarrar a dela . E vou buscar a chucha da bebé mais pequena à mãe e aproveito para dizer à CLSM que ela já é uma menina e até já não precisa da chucha. Ela dá-me. Não pichija. E tudo corre bem.

Então explico-lhes que todas as crianças gostam de bolas, mas que é muito mais giro brincar a dois do que só. E elas jogam juntas. E tudo corre bem.

E então explico que a menina de 4 anos ainda não sabe que deveria dar a volta e não empurrar para passar primeiro. Mas que a mamã lhe vai explicar, visto os pais da criatura estarem  convenientemente desaparecidos.

E a mamã explica à criança de 4 anos, com um sorriso e com uma carícia. A criança volta a empurrar para passar. E a mamã explica-lhe com um sorriso. A criança volta a empurrar para passar. E a mamã, olhando nos olhos, com ar sério, explica melhor. A criança volta a empurrar para passar.

E a criança cai no chão. Misteriosamente.

Hora de outra lição de vida importante, meu amor. 

Karma is a bitch. 

E a mamã também.


Beijo da Patinha *



quarta-feira, 6 de maio de 2015

Volto



Volto a ti a medo.

Estive ausente. Deixei-te. Não te disse nada.

Não sei bem o que te diga. Estou meio sem jeito. Queres que te peça desculpa?

Mas pensei em ti. A sério que pensei. Contei-te tantas coisas, mas não tas escrevi.

E senti-me culpada. Como se estivesses constantemente à espera de pelo menos um olá. E eu estivesse sempre a falhar-te.

É um problema meu esta coisa, este peso constante da culpa.

Mas se for para sermos corretos, a verdade é que te avisei. Logo no primeiro texto que te escrevi. Avisei-te que era mulher de paixões. Que vêm e vão.

Pensei nisso, mas não me fez sentir melhor.

Depois pensei que disse ao mundo que eras um blogue pessoal. Então tens de ser como eu. Cheio a transbordar. E oco vazio. Sucessivamente. Simultaneamente.

Mas na verdade é isso que me incomoda. A inconstância.

E quando digo, admito, reconheço as minhas paixões temporárias, digo com graça, mas com a secreta esperança de ser diferente dessa vez.

De descobrir uma paixão que se seja para sempre.

De saber nadar verdadeiramente, em vez de chapinhar.

De acabar a faixa pavorosa de ponto cruz com golfinhos para coser na toalha que felizmente não comprei.

De acabar a segunda risca do tapete de esmirna.

De acabar de escrever a peça de teatro que tem 10 páginas há 10 anos.

De justificar condignamente ter um piano e frequentar aulas de piano. Sem passar por tocar os "parabéns". Como qualquer pessoa que tenha acesso ao youtube.

De conseguir concretizar uma ideia genial sem que alguém o faça primeiro.

De conseguir manter um plano de exercícios. Foram 3 anos a fazer desporto todos os dias, seguidos de 3 anos a conscientemente evitar fazer desporto em dia algum.

De saber fazer 2 quadrados no Illustrator como fiz no workshop. Nem precisam de ser de cores diferentes. Já me contento se tiverem 4 lados. Iguais.

De ter uma gaveta de projetos com 3 vestidos. Mas todos com saia.

De fazer as coisas até ao fim. De ser persistente. Constante. Coerente.

E encolho-me quando passo pelo ginásio. E não vejo o piano no corredor. E tapei a máquina de fazer bainhas.

Ao menos consolo-me por ser constante com as minhas pessoas.

            - Não com todas e infelizmente com cada vez menos.

Ao menos consolo-me por ser coerente nas atitudes e posturas.

             - Apesar de haver dias que VIVO (agora quase todos os dias) e outros em que sobrevivo.

Fraco consolo este.


E era isto, meu querido. Desculpa-me o tom distante e formal e as filosofias baratas de livraria de aeroporto. Quando me dá para isto, ninguém aguenta a pose de escritora.

Já te disse que vou fazer um curso de escrita criativa?

É desta que descubro a minha verdadeira paixão!

Eu sinto que sim.

Sinto com alma de artesã, resistência de nadadora desportista e dedos de pianista.


Beijo da Patinha *


Pronto, para o futuro vale esta desculpa. Nunca mais teremos esta conversa. Posso escrever-te 3 vezes num dia ou passar 3 semanas sem dizer "ai". É assim a vida. Amanha-te!