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No capítulo anterior:
Vida própria, galinha, desengalinhar, fim-se-semana, bla bla bla viagem, órgãos, não mexo uma palha para fazer o jantar, depois do jantar veio a loucura.
------ Apresentando o último capítulo -------
Foi a loucura, digo-vos!
Arrumados os pratos - continuei sentada na minha cadeira - tivemos uma noite insana de jogos de tabuleiro!
Sim, jogos de tabuleiro. E rimos até nos doer o baço.
Para que se entenda, a mensagem que recebi antes de ir, que há 4 anos seria "traz mais álcool. Muito mais álcool", foi desta feita "podes trazer um cremezinho para massagem? Estamos todos empalamados das costas".
E o que seria uma noite de excessos, confidências vergonhosas, conversas sem nexo e cheia a abarrotar de nada, deu lugar a uma noite cheia de tudo.
E divertida c'mo caraças.
E dei por mim a pensar que estávamos todos na mesma página. Senão na mesma página, pelo menos no mesmo capítulo. E nenhum destes meus amigos é casado, muito menos pai ou mãe.
E percebi que, se eu tinha mudado consideravelmente nos últimos tempos, a maternidade não pode ser o bode expiatório da coisa. Pesa imenso é um facto, mas não está só.
A verdade é que evoluímos, mudamos, repensamos prioridades e posturas, objetivos e ambições. Acumulamos experiências, passamos pelo tempo.
Pronto, estou para aqui a engonhar e a evitar admitir como um vampiro evita o bronze que não vem em spray, mas vou dizê-lo: envelhecemos.
Inevitavelmente. É isso.
E não é o fim do mundo.
Cumprida que está a reflexão lapalissiana, rumemos adiante.
Descobri entretanto que não tinha rede no telemóvel. O pânico! E se precisam de mim e se acontece alguma coisa e se não sabem onde está aquela coisa importantíssima que nunca foi necessária até ao dia de hoje?
Junte-se uma cama desdobrável tenebrosa - massagem para quê? - que rangia de tal forma que me acordou cada vez que me virei durante a noite e pode dizer-se que não tive as mais descansadas cinco horas de sono de sempre.
Acordei cedo - apesar de estar há dois meses sem me calar sobre as saudades que tinha de dormir até tarde - porque o cérebro esqueceu-se de desligar.
E quando abri as portadas, vi isto. Só isto. Nada mais à volta, senão serra e mar.
E depois de respirar bem fundo e sorver, liguei ao fafá.
Estavam na Fnac a ouvir uma "senhoia" (Maria do Carmo) histérica (papá) contar uma estória.
Porra, queria ser eu a levá-la.
Estava felicíssima e esteve super bem. Respirei de alívio.
Só perguntou por mim uma vez. Parei de respirar.
Como assim, estás a dizer isso para não me preocupar? Que não, que era a mais pura da verdade. Mas isso é tão estranho, não achas? Mas que foi assim sem tirar nem pôr.
Peguei no saco de papel, despedi-me com beijos, abraços e saudades e fiz-me à estrada.
O rádio já funcionava. A música da engrenagem do meu cérebro já é suficiente, obrigada.
Não deixava de ser estranho. E fui pensando nisso enquanto me tentava convencer que o que me intrigava era a análise da reação - dela - e não a quantidade de tristeza - minha.
Quando cheguei a casa fui recebida com beijos e abraços que sofregamente colhi, mas que de alguma forma perniciosa me souberam a pouco.
Era como se nada se tivesse passado de diferente. Business as usual.
E dramática até à medula, passei dois dias a visitar uma encantadora espiral descendente.
Se era indiferente a minha ausência na área da minha vida a que mais me dedico de corpo e alma é porque ali eu era irrelevante. Porque falho. Porque também falho sistematicamente nos outros campos. Porque falho sempre em tudo. Porque sempre falhei em tudo e sempre falharei.
E é assim sempre que opto por colocar aqueles óculos que tenho no armário ao lado dos ray ban. Os óculos da estupidez melodramática obtusa.
Dei-me um par de estaladas imaginárias que me acertaram na mona em cheio, de tal forma que arrancaram os óculos.
E percebi que tinha de me deixar de tontices, para não dizer de merdas.
Conclui que se o mundo da CLSM não desabou porque a mamã não estava, é porque eu estava a fazer alguma coisa bem. Que estava a criar a criança forte e independente que tanto quero criar.
E fiquei tristemente feliz.
Dias depois, voltei a ausentar-me por duas horas.
Que hoje foi terrível, perguntou por ti imensas vezes.
E fiquei felizmente triste.
Olá, espiral! Há tanto tempo...
Mas quem tem paciência?!
Fiquemo-nos pela paisagem
Beijo da Patinha *
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