terça-feira, 21 de abril de 2015

O balão do João




Há uns dias estávamos, eu e a Maria do Carmo, a andar de carro - a nossa disco sobre rodas - e começou a dar o "balão do João".

Ela adora esta música e já canta a maior parte dela sozinha. Mas nesse dia, por alguma razão misteriosa à Area 51, mal cantou que o balão ia a voar pelo ar, faz uma pausa dramática como que a assimilar a origem do Universo.

       - Ohhh, o bauão. A voá. Tadio Zoão. A choá.

Pensei cá para os meus botões pensantes que era uma bela oportunidade para ensinar que, às vezes, coisas más acontecem, do tipo shit happens. Mesmo que não se componham como se quer. O importante mesmo é saber lidar com elas. 

       - Pois foi, amor. O vento soprou e o balão voou, O João ficou triste, mas depois pensou em tantas outras coisas boas que tem, a mamã deu-lhe um beijinho e ele ficou bem. 

      - Ohhh, o bauão. A voá. Tadio Zoão. A choá.

      - Foi, amor. Às vezes acontece, mas logo passa. Há coisas que não se podem controlar. Mas o João foi brincar e ficou mais feliz. Deixou de chorar.

      - Ohhh, o bauão. A voá. Tadio Zoão. A choá.

E trezentas vezes - foram, não contei mas foram- ouvi eu ohhh, o bauão. A voá. Tadio Zoão. A choá.

E cada vez que ouvia a paciência sumia-se mais um bocadinho. A resposta diminuía proporcionalmente. A última vez já só me saiu um "é".

E cada vez que ela dizia só pensava não, não vou dizer, vou resistir, não vou dizer.


Trecentésima primeira vez:

       - Ohhh, o bauão. A voá. Tadio Zoão. A choá.

Não aguento! Tenho de acabar com isto! Já não posso! Vou dizer e que se lixe:

       - E depois a mamã do João comprou-lhe outro balão. Pronto.

      
Silêncio. Avé!



E trezentas vezes ouvi eu:

      - Outo bauão! A mamã Zoão outo bauão!


Maldito João.


Beijo da Patinha *

      


    

      

      

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