terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O primeiro beijo na boca

É verdade. Aconteceu.

Maria do Carmo deu o seu primeiro beijo na boca. 

Assim, sem uma apresentação, sem uma conversa fiada, sem um jantar ou pelo menos um copo.

Vai ser fresca... 

Foi hoje, dia de Carnaval, pelas 17 horas. (Não sei porquê parece-me relevante indicar o dia e as horas como se de um delito se tratasse. Ossos de ofício e não o subconsciente a trabalhar, espero).

CLSM estava disfarçada de Wonder Woman com uma mega saia de tule, porque rabos gordos de fraldas daqueles merecem uma saia de tule. 

Ele estava disfarçado de polícia, de bigode e tudo.

Poderia ser uma série do AXN inspirada na Marvel, vendo bem.

Ela brincava com o cão dele, sem lhe dar sequer o ar da sua graça. Ele estava absorto numa qualquer difícil tarefa, como são quase todas quando se tem esta idade.

Até que esta Mãe Patinha - sim, fui eu a instigadora - se lembra de dizer:

    - Dá um beijo ao menino.

Ela estica-se e em bicos de pés vai dar um beijinho na bochecha, quando ele com as suas mãozinhas sapudas lhe vira a cara e ficam assim de lábios colados pelo que pareceu uma eternidade...

Na verdade foi ternurento, inocente e de derreter o coração.

Ela sorri e diz: 

     - Xau! (esperta!)

Olho rapidamente para o papá para perguntar se ele tinha visto. E ele que não. Como não? Estás aqui ao lado e a olhar para ela. Tens de ter visto. Mas não, que não viu.

Percebem, não percebem? 

E passou o momento e eu embevecida, com o único lamento de não ter filmado.

Isto até, horas depois, ter comentado com a BFF, que simplesmente me perguntou como é que me tinha sentido.

Pois, realmente! Eu deveria ter sentido alguma coisa.

Deveria ter sentido o mundo escapar-se-me por debaixo dos pés, a terra a engolir-me, os cavaleiros do apocalipse a virem na minha direção e todas as pragas do Egipto (recuso terminantemente o "Egito") com o meu nome escrito!

É porque, afinal, eu sou a mãe que fica horas a despedir-se da roupa que já não lhe serve, a que, se ainda estivessemos nos tempos da VHS, gastaria a fita de tanto rever os vídeos de quando ela nasceu, a que olha para uma menina de 18 meses que já não é bebé e, 1 em cada 10 vezes, fica com os olhos marejados com a rapidez com que ela cresceu. Sim, eu sou a mãe que inventou o "colinho de bebé" para poder pegar em 12 kg, como se de facto ainda de uma bebé se tratasse...

Pois sou. Mas também sou a mãe que já sabe do que ela se vai vestir no próximo Carnaval, que se põe a imaginar todas as canções e coreografias (elaboradíssimas!) que vamos inventar ao longo da vida, os filmes da Disney que vamos ver, a mãe que sonha com o dia de comprar os livros e os cadernos da 1.ª classe (ok, é mais pelas canetas, mochilas e afins), a que pensa como será a conversa sobre o período, a que vibra com a excitação dela na primeira saída à noite, nos nervos do primeiro dia de faculdade, antecipa as conversas pela noite dentro regadas a vinho (eu) e a gelado (nós),a que se emociona com aquele dia em que ela percorre o altar e com o momento em que ela vai descobrir a felicidade plena de ser MÃE...

Sou uma mãe com saudades do passado - ser saudosista está-me no sangue e entranhado nos genes -  mas sempre, sempre feliz e expectante por tudo o que ainda vem.

(Neste momento, sou uma mãe com um teclado salpicado de benditas lágrimas que teimam...)

E pensando bem (enxuga, enxuga), voltando ao beijo, poderia ser bem pior. Senão, vejamos: o moço era mais velho que ela, mais alto, engraçadito, tem um cão, trabalha (é polícia, é verdade, mas ninguém pode ser perfeito!), demonstrou espírito de iniciativa e soube deixá-la ir. Nada mau!

Não? ;) 

Beijo da Patinha *


P.S. - Se algures em 2045 estiveres a ler isto, Maria do Carmo, e não tiveres frequentado a faculdade, não tenhas casado nem tido filhos e vivas numa comunidade nudista no Sul da Califórnia onde se pratica a poligamia, não faz mal. A mamã ama-te na mesma. De qualquer forma, espero que tenhas feito a 1.ª classe...


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