domingo, 14 de junho de 2015

Por aqui não se passa fome!


Um morango a comer morangos!


A minha filha gosta de comer. Gosta mesmo muito de comer.

Ainda este fim-de-semana deixou toda uma mesa de amigos nossos boquiabertos com a velocidade a que comia. A quantidade. E o prazer que isso lhe dá.

Uma rodela de kiwi? Duas dentadas. E ainda com ele na boca já está a pedir morangos. E a piscar o olho às cerejas.

Tem a quem saia. A minha família é de comilões.

Lembro-me que, quando éramos miúdos, não era assim tão invulgar almoçarmos duas vezes. Em casa e, se a comida fosse boa, na da avó também.

A minha mãe conta - vezes demais - que, num belo dia eu, com a idade que a CLSM tem agora, desapareci misteriosamente dentro de casa.

Filipa? Nada. Onde estás? Nada.

Deu comigo escondida atrás da porta do quarto, com chocolate até às pestanas, a devorar uma tablete inteira que surripiara da cozinha.

Glup.

Além de gostar de comer, a MC, também à semelhança, tem problemas com o controle no que respeita a comida.

Ela que é atinada em tudo o mais, se lhe tiram comida vira onça. Mesmo.

Muito bem que não é com tudo. Se falarmos de sopa, massa, arroz, peixe carne, legumes, iogurtes e semelhantes, come bem, mas (talvez) não mais que as outras crianças.

Agora se falarmos de bolacha, pão, queijo, fiambre, tudo o que seja fruta e o (muito pouco) açucar que come quando o Rei faz anos, aí a música já é outra.

É o terror.

Há uns dias abrimos a época balnear.

Decidimos tomar um pequeno-almoço tardio no bar de praia, enquanto ela lanchava.

Quando as nossas tostas mistas finalmente chegaram - tiveram de ordenhar a vaca e matar o porco - a CLSM já tinha lanchado.

Um iogurte, 5 morangos médios e duas bolachas Maria.

          - Pão. Pão pá Mia Cámo.

          - Amor, o senhor ainda nem pousou o pão na mesa.

           - Pão. Pão pá Mia Cámo.

           - Tu já lanchaste. Agora a mamã e o papá vão comer.

            - A Mia Cámo tem fome.

            - É impossível teres fome, Maria do Carmo. Comeste o suficiente.

            - A Mia Cámo tem muita fominha. A Mia Cámo tem muita fominha.

            - A mamã então vai dar-te o último morango que trouxe.


Era o morango das emergências.

Foi-se em três dentadas.


            - Queizio pá Mia Cámo.

            - A mamã não te vai dar queijo porque tu já lanchaste, meu amor. Este é da mamã.

           - Fiambi. Muito fiambi pá bebé.

           - Nem fiambre muito menos.


Conquista pelo charme. Sorriso maroto, cabeça inclinada:


           - Pãozio pá bebé. Na boca. Aqui na boca, mamã.

           - A mamã não te vai dar porque já comeste o suficiente.


Conquista pelo cansaço. Olhar esgazeado:

           - Pão pá Mia Cámo.

           - Pão pá Mia Cámo.

           - Pão pá Mia Cámo.

           - Pão pá Mia Cámo.

            - Pão pá Mia Cámo.


Já engolíamos as tostas para acabar com o martírio. Estive mesmo prestes a deitar o pão fora. Mas não deitei. Não fosse ela filha de quem é.

          - Pão pá Mia Cámo.

          - Pão pá Mia Cámo. Agoia.

         - Pão na boca da Mia Cámo.

         - Pão pá Mia Cámo.

Em desespero já olhava para o Super Gato sem saber o que fazer. E de repente vi o copo plástico com tampa que tinha servido para levar os morangos.

Ela entretém-se imenso com aquilo, a tentar abrir. Nunca conseguiu.

Dei-lhe, cheia de esperança.

Funcionou. Ela esqueceu-se.

Durante um minuto, só se ouvia o som do mar e o tagarelar das pessoas.

Praia.

O SG e eu olhávamo-nos. Incrédulos e aliviados.

Ela conseguiu abrir a tampa.

Mostrou-me o copo. Toda feliz e orgulhosa.

         - Põe aqui dento, mamã!

        - O quê, amor?

         - Pão pá Mia Cámo.



Beijo da Patinha *














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